21 janeiro 2003

O time do Botafogo ficou revoltado com a arbitragem e o Garrincha resolveu nos vingar.
Pegou a bola, passou por dois ou três na defesa deles e ficou cara-a-cara com o goleiro.
Driblava-o com o corpo ameaçando que chutava e não chutava.
Até que, já cansado, o goleiro se distraiu e o Mané meteu a bola entre as pernas dele e fez o gol.
No vestiário, o treinador, que era o Paulo Amaral, perguntou, indignado, ao Garrincha por que ele havia demorado tanto pra fazer um gol, num jogo tão difícil daquele.
Mané respondeu: 'Paulo, ele não queria abrir as pernas!'

Foi em 1958, na Itália.
O Brasil jogava contra a Fiorentina, a caminho do Mundial da Suécia.
Garrincha invadiu a área, deixou um beque sentado e se livrou de outro, e de outro.
Quando já tinha enganado até o goleiro, descobriu que havia um jogador na linha do gol: Garrincha fez que sim, fez que não, fez de conta que chutava no ângulo e o pobre coitado bateu com o nariz na trave.
Então, o arqueiro tornou a incomodar.
Garrincha meteu-lhe a bola entre as pernas e entrou no arco.
Depois, com a bola debaixo do braço, voltou lentamente ao campo.
Caminhava olhando pro chão, Chaplin em câmera lenta, como pedindo desculpas por aquele gol, que levantou a cidade de Florença inteira.

Em tempo: volto em fevereiro!

Perdoem a ausência mas as férias me afastaram do teclado.

Motivos óbvios: trabalho com essa joça e no descanso, ou fico com minha mulher ou fico com a tal joça e um belo par de chifres!

Mas não pude nem quis deixar de registrar aqui a morte do grande botafoguense, jornalista, alma e pessoa, Oldemário Touguinhó.

Ele parte no mesmo dia em que, há vinte anos, partia seu grande amigo, Garrincha.

Desconfio que, mais uma vez, Oldemário tentava chamar a atenção daquele por ele considerado o maior de todos os jogadores de futebol de nosso tempo (maior até que seu outro grande amigo, Pelé).

Nem sei se é isso ou eu apenas estou buscando uma palavra, uma imagem, pra tentar mostrar o quanto a alma desse camarada era grande, o quanto seu coração também o era.

Ele e seu companheiro de paixão clubística e redação do JB, Sandro Moreyra, formavam a dupla de jornalistas esportivos mais carioca e brilhante que jamais existiu.

Somados ao grande João Saldanha, eram a santissíma trindade do futebol carioca impresso às segundas, depois dos grandes clássicos dominicais no Maracanã de outrora, que hoje os cartolas por eles fustigados, tentam (em vão, se Deus o permitir) tentam destruir.

Textos sempre elegantes e ao mesmo tempo apaixonados em suas convicções, engraçados quando assim permitia o fato, comoventes, ternos, sobretudo verdadeiros.

Lendo, tanto Saldanha e Moreyra, quanto Touguinhó, pude entender um pouco da alma dessa cidade e de seus personagens.

Amavam o Rio de Janeiro e o Botafogo.

Foram ao mesmo tempo testemunhas e personagens da história da cidade e do alvinegro.

Sandro Moreyra e João Saldanha já nos deixaram há muito, e junto levaram seus textos...

Garrincha, principalmente para os mais novos, não passa de um personagem de livro, isolado nos distantes anos 60 do século passado...

Aos mais novos, principalmente cariocas, mas aos brasileiros em geral, recomendo fortemente: conheçam esses personagens. Garrincha, Moreyra, Saldanha e Touguinhó.

Conhecendo-os, garanto que estarão conhecendo um naco importante da história desse país e da cidade de S. Sebastião.