21 fevereiro 2002

"No dia 1º. de março, exatamente as 6 horas da manhã, a rádio Fluminense FM, se estivesse viva, estaria fazendo 20 anos de idade. Em geral, textos desse tipo começam com frases-clichês do tipo "parece que foi ontem", ou "o tempo voa", mas neste caso não. Mesmo com a Fluminense FM fora do ar, sinto cada dia a sua ausência, como a de uma grande mulher que um dia partiu para um lugar desconhecido.

(...) Lembrei nitidamente do dia em que meu grande amigo Maurício Valladares, produtor de primeira hora da Fluminense FM (ao lado de Serginho Vasconcellos, Alex Mariano e Amaury Santos) apareceu na rádio com um cara tímido, usando óculos de armação vermelha. Era Herbert Vianna que levava no bolso uma fita K-7 dos Paralamas tocando "Vital e sua Moto", uma gravação feita na casa da avó dele. Quando os Paralamas explodiram, pudemos sentir que estávamos no caminho certo, que a Fluminense FM tinha tudo para fazer uma revolução. E fez, não só através de bandas nacionais como Legião, Blitz, Barão, ou nomes internacionais como o U2, UB 40, Zeppelin, Who, Peter Gabriel, e literalmente milhares de outras, mas sobretudo através de sua fala. A fala da Fluminense FM, nascida da abertura política brasileira que ainda engatinhava. Sim, quando me pergunto eu encho e peito e digo "o melhor da Fluminense FM era a sua fala, a sua ousadia, os seus toques, a sua postura política, radicalmente de esquerda".

(...) Eu consumiria páginas e mais páginas desta revista falando das coisas que aconteceram na Fluminense FM ou por causa da Fluminense FM, mas felizmente a jornalista Aline Rios não deixou escapar nada e todos os fatos que a Fluminense provocou (acima de tudo a rádio era uma fábrica de fatos e de absurdos saudáveis) estão registrados no livro "A Onda Maldita...". O leitor vai perguntar "valeu à pena?". Claro que sim. Entre 15 de setembro de 1981 (quando entrei na rádio) e 1o. de abril de 1985 ( quando deixei a emissora, que estava em terceiro lugar em audiência no Grande Rio), tudo valeu à pena. Aprendi muito, vivenciei a fundo o nascimento na terceira geração do rock brasileiro, enfim, a Fluminense virou um ícone. Como o Circo Voador, onde as bandas (centenas) que tinham suas fitas K-7 aprovadas pela rádio iam tocar, selos independentes nasciam em profusão, enfim, a Fluminense FM foi o megafone da inteligência do Rio no inicio dos anos 80. Aí, o leitor pergunta de novo: "e hoje, você acha que a Fluminense FM deixou um legado". Serei brutalmente franco: não. Correndo o dial das rádios cariocas, vejo o cenário mais pobre ainda do que em setembro de 1981, mas isso é outra história, que cabe a nós, todos nós, reescrever. De minha parte, estou investindo tudo o que aprendi (e aprendo) numa rádio de Rock que está pousada na Internet, a Rocknet (www.rocknet.com.br). Para ouvir, basta baixar o aplicativo Winamp (disponível de graça em www.winamp.com) e ouvir as músicas experimentais que pusemos no ar. Em março virão as falas, e pelo que estou sentindo, a Fluminense FM de 1982, esteja onde estiver, vai se sentir orgulhosa da sua filha on line.


Texto de Luiz Carlos Maciel no Mão Única (vai lá conhecer, tosco !!!) sobre a Rádio Fluminense.

0 comentários: