13 junho 2002

TIM LOPES

Falei pouco (a bem da verdade, quase nada) a respeito do Tim Lopes e de sua morte.

A razão principal, óbvia, é de que este é um blog absolutamente descompromissado, falsas impressões e menos verdadeiras ainda, as intenções de seriedade.

Mas no caso do Tim, pelo que andei lendo por aí (jornais e blogueiros em geral) as coisas tem tomado um rumo que deixa repleto de incertezas...

Sem dúvida, pode parecer que a imprensa está, com a cobertura que vem sendo dada, sendo corporativista, em detrimento as outras centenas de vitimas que violência urbana - no Brasil, em geral e no Rio, em particular - vem fazendo , dando mais espaço na mídia, por ser ele um jornalista.

Pode ser, mas antes de jornalista, ele era um pedaço de consciência. Nossa consciência, que teimava em não calar, teimava em não se anestesiar, ante o cotidiano ultraviolento e, nesse sentido, sua morte adquire contornos muito mais graves.

O que Tim fazia no momento de sua morte?

Servia de incômodo, lembrando a nós, população dita refém, que o poder público - embora seguidas vezes acionado - não conseguia trazer ordem e paz aos moradores de Vila Cruzeiro, obrigados a assistir um coquetel de violência e drogas, nos tais bailes funk por eles denunciados.

Servia de incômodo, dizendo que não podemos deixar toda essa rotina sangrenta, ser o anestésico que banaliza e embrutece nossa convivência, nossa sociedade.

Servia de incômodo, lembrando a nós, de novo, que o poder público que se mostra incompetente, inepto, conivente, cúmplice dessa situação, nada mais é do que uma manifestação de nossa vontade, feita nas urnas, onde depositamos votos como cuspimos no chão, recitando o mesmo mantra de sempre (nenhum político vale nada, são todos ladrões, etc...), mas sem nenhuma atenção ou critério, por mera conveniência pessoal e nenhuma vontade social.

Tim nos dizia isso, cada vez que expunha as feridas que teimamos em atribuir, num atestado de burrice democrática, aos outros (pobres, favelados, políticos, policiais corruptos e mais alguns personagens), esquecendo que somos os grandes responsáveis por todos esses "outros".

Era essa sua tarefa, e talvez por isso, sua morte, no pleno exercício dessa "chamada à realidade e as falas" tenha essa dimensão, maior do que a do homem comum, mas nunca sem coloca-la num segundo plano, afinal era na função de lutar pela extinção da violência que vitima o cidadão, que Tim Lopes lutava.


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