SAFARI...
Hoje eu realmente me aventurei nos obscuros espaços da selva carioca!
Resolvi acompanhar a futura 1ª Patroa num passeio pela SAARA, área de comércio popular - não confundir com camelódromo - compreendida pelo espaço que vai da Av. Rio Branco até a Praça da República, delimitada (e formada) noutra parte, pelas suas transversais (da Alfândega até a Sete de Setembro).
Dito, isto, cabe a pergunta: o que uma criatura razoavelmente inteligente, mental e fisicamente sadia, equilibrada e, sobretudo, vivida, vai fazer nesse espaço exíguo do Centro dacidade de S. Sebastião, em plena semana anterior ao Natal, (ou seja, local exíguo e apinhado apinhado cabendo aqui um qualificativo: pra caralho)?
Numa palavra, a resposta: economia. Os preços são ótimos!
Em duas ou três, a verdade: intimidação por cara-metade ("vamos benhê" com tradução literal para "se não, for vai ter - ou não")!
Mas, voltando aos fatos: é uma excursão impressionante!
As pessoas, mormente um ou outro irmão no sofrimento como exceção, não tomam conhecimento da sua presença física, fazendo questão de atravessa-lo, varejando junto embrulhos e afins, como raios-X, atravessando quaisquer corpos sólidos.
Hematomas mil, das quinas de caixas de papelão, acondicionadas em sacolas monstruosas e balançantes, dando "dicumforça" nas suas incautas panturrilhas, ao som tradicional do bufar dos mal-humorados!
Expressão completamente fora de uso, "Dá Licença?" equivaleria a um certificado de civilidade e boas maneiras emitido por algum centro suíço de hotelaria.
Claro que, além dos passantes (e comprantes) existem os personagens acessórios...
O primeiro deles é o sujeito (autodenominado promotor de vendas) que faz questão de berrar nos ouvidos de quem pára em frente a sua loja (e nem sempre esse parar é pela loja, sendo no mais das vezes fruto do engarrafamento perene), as promoções da hora, aumentando a cada berro, as chances dos decibéis ensandecidos contribuirem decisivamente para um futuro de impotentência sexual!
Outro é o carregador de mercadorias, que surge do nada às suas costas, normalmente carregando qual formiga, volume maior que sua presunção física, e a plenos pulmões manda ver: OLHA O PESADO! DEIXA PASSAR!!! Desnecessário dizer o quanto isso conta na rentabilidade das clínicas especializadas em tratamentos coronarianos...
Por fim, temos o vendedor (ou vendedora) solícito, misto de seqüestrador furtivo e amigo vaselina, especializado em notar nos olhos (e nos bolsos) da vitima, o desejo da aquisição de seja lá o que for.
Pronto!
Com mais braços que um octupussy de filme de James Bond, ele se acerca de você, toma seu espaço e começa a ressaltar as qualidades intrínsecas do produto, não importando que ele seja uma imitação paraguaia da versão falsificada da Barbie feita em Hong Kong. Mas aí você se desilude, sente a qualidade inferior da mercadoria, o pouco tempo que aquilo vai durar nas mãos dos pimpolhos, etc, etc, etc...
Ele (ou ela), o vendedor também nota essa desilusão, e aí, tal e qual aquele avião do 201 que você cercou e mimou, mas que não queria nada (exceto sua carteira), tome pé na bunda e vamos pro próximo trouxa!
Mas nem só das suas (minhas) desgraças cotidianas vive a SAARA.
Aproveitei a esticada pra almoçar no bom e velho Cedro do Líbano, sem dúvida (e a revista Gula, ano após ano, não me deixa mentir) a melhor cozinha árabe da cidade, com insuperáveis Caftas de Cordeiro, Folhas de Uva (os charutinhos) Recheadas, um Homus perfeito e de quebra, um Rahat original, feito com primor.
O fino em se tratando de boa e honesta comida!
Ao sair, ainda parei na Casa Pedro, comprando um belo Lombo de Bacalhau Imperial do Porto e, claro, um pouco de Pata Negra, que ninguém é de ferro!
De quebra, parei também na Charutaria Syria, comprei alguns Romeo Y Julieta (dos mais em conta) pro Reveillon, só pra lembrar como é bom degusta-los...
Em casa, hoje à noite, certamente serei olhado com um misto de bravura e solidariedade pela mulher amada. Haverá carinho e gratidão, com certeza, uma noite de amor dos que se completam nas agruras cotidianas do relacionamento...
Nessa hora então, ainda que disso não se exija retribuição, todo o sacrifício já estará justificado e pago!
Mas é claro, não posso deixa-la sequer suspeitar, que as caftas do Cedro do Líbano já tinham lhe redimido do sufoco imposto...
18 dezembro 2002
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